Igreja Paroquial de São Mamede, Lisboa


Nesta página: 

I . História

II . Descrição

III . São Mamede: culto e iconografia

 

I . HISTÓRIA

A primitiva freguesia de São Mamede, uma das mais antigas de Lisboa, situava-se na encosta ocidental do Castelo. Foi instituída possivelmente no início do século XIII, e estava ligada de modo particular a Santo António pois, segundo consta, os seus pais estavam ali sepultados.

Com a destruição total da igreja pelo terramoto em 1755, a paróquia instalou-se primeiro em São Cristóvão, e mais tarde, em 1761, na igreja de São Patrício, sendo transferida em 1769 para a ermida de Nossa Senhora Mãe de Deus e Mãe dos Homens, em Vale do Pereiro.

A nova igreja de São Mamede começou a ser construída em 1782, em terrenos cedidos pelo Real Colégio dos Nobres. As obras prolongaram-se durante muitos anos, tendo a igreja sido inaugurada a 18 de Agosto de 1861, sem estar ainda concluída. Em 26 de Maio de 1921, um violento incêndio causou a total destruição do templo. Foi reerguida por subscrição pública, segundo projecto do arquitecto Raul Martins (1892-1934), e inaugurada solenemente em 24 de Fevereiro de 1924.

Por motivo do alargamento da Rua Nova de São Mamede, nos anos 30 (século XX), foi eliminada a sacristia a nascente, e foram construídas novas dependências do lado ocidental da igreja, nomeadamente a capela dedicada a Nossa Senhora de Fátima e aos Santos Portugueses.



II . DESCRIÇÃO

A igreja de São Mamede está situada numa área de intensa actividade cultural e comercial, enquadrada pelo amplo largo em calçada portuguesa e escadaria de acesso.

No interior da nave destaca-se o invulgar revestimento das paredes, em azulejo azul e branco, nomeadamente na representação das estações da Via Sacra, do pintor e ceramista Conceição Silva (1869-1958). O tecto, em abóbada rasgada por lunetas, tem pintura central com motivos eucarísticos e decorativos.

À entrada encontram-se duas inscrições em azulejo referentes à fundação do templo em 1861 e à sua reconstrução nos anos de 1921/1922.

Do lado esquerdo da nave encontra-se o antigo Baptistério, com vitral representando O Baptismo de Cristo, da oficina de Ricardo Leone (1891-1971); o altar com imagem recente de Nossa Senhora de Fátima; e a anterior capela do Santíssimo Sacramento.

No altar de Nossa Senhora da Conceição, do lado direito da nave, encontra-se a notável escultura de Nossa Senhora da Conceição, de José de Almeida (1708-1770), pertencente à antiga igreja do Noviciado da Cotovia. Do mesmo lado está o altar de São José com imagem recente.

Na nave encontra-se também a Pia baptismal.

Na capela-mor, com abóbada em cantaria (século XIX), o retábulo representa A Morte e Exaltação de São Mamede, de Conceição Silva (1923). Grandes painéis azulejares com cenas da Vida de São Mamede, igualmente de Conceição Silva, revestem as paredes laterais: São Mamede pastor acha um cajado e um livro dos Evangelhos; São Mamede é preso e condenado a tormentos; São Mamede quebra os ferrolhos do cárcere e dá liberdade aos cristãos; São Mamede defendido por um leão bravo morre apedrejado. Duas tribunas sobrepujadas por janelões completam este espaço.

Encontram-se na capela-mor uma notável escultura em mármore de Nossa Senhora da Conceição, assinada Pietro Martini Sanctus, di Milano, proveniente, segundo consta, do extinto Convento da Esperança; e um Crucifixo em tamanho natural, vindo da capela do Rato, do antigo Palácio dos Marqueses da Praia.

No Salão Nobre, antiga sacristia chamada do Santíssimo, encontra-se um grande número de obras de arte sacra, nomeadamente duas telas representando A Última Ceia e A Visitação.

Na capela interior de Nossa Senhora de Fátima e dos Santos Portugueses, destaca-se o vitral de Nossa Senhora de Fátima e os três pastorinhos, da oficina de Ricardo Leone. Tem as paredes laterais revestidas de painéis de azulejo, de Conceição Silva, alusivos a Santos Portugueses: São Teotónio, São João de Deus, Santo António, Santa Joana Princesa, Santo Condestável, Beata Mafalda e Beata Sancha.

No coro-alto, o magnífico conjunto de vitrais, da oficina de Ricardo Leone (1927), tem representado a Crucifixão de Cristo, e lateralmente os Santos Doutores da Igreja: Santo Agostinho e São João Crisóstomo, São Jerónimo e Santo Ambrósio.

O grande órgão, com brasão, dos finais do século XIX, do organeiro francês Aristide Cavaillé-Coll (1811-1899), foi oferecido à igreja pelo Duque de Palmela (c. 1960).

A igreja possui um notável conjunto de esculturas de Santos, nomeadamente de São Sebastião da Saúde – a única imagem da primitiva igreja de São Mamede na costa do Castelo; São Miguel Arcanjo, São Joaquim, Santa Ana, São João Evangelista, e a antiga imagem de Nossa Senhora Mãe de Deus e Mãe dos Homens, proveniente da desaparecida ermida desta invocação.



III . SÃO MAMEDE: CULTO E ICONOGRAFIA

São Mamede nasceu em meados do século III, em Cesareia da Capadócia (na actual Turquia), na prisão onde estavam encarcerados os seus pais, por propagarem a fé cristã, tendo sido martirizados logo após o seu nascimento.

São Mamede ficou entregue aos cuidados de Ammia, virtuosa dama de Cesareia, que o adoptou e educou dentro dos mais profundos preceitos morais e religiosos. Ammia morreu quando o jovem tinha apenas 15 anos, estando a cidade de Cesareia ainda sob o domínio Romano, no tempo do imperador Aureliano, que por esta altura iniciou uma nova perseguição aos cristãos. 

Segundo a tradição, Mamede foi perseguido, preso e martirizado, sendo libertado por um anjo; refugiou-se nas florestas do monte Algeo próximo de Cesareia, onde nenhum ser humano se atrevia a visitá-lo. Aí viveu durante dois anos como eremita e passava os dias em oração, convivendo apenas com os animais da floresta. Tinha a virtude de domar as feras selvagens e habitar com elas. Frequentemente, vestido com peles e disfarçado de pastor, descia até Cesareia para o trabalho apostólico. Numa dessas ocasiões, Mamede foi novamente aprisionado e apedrejado, tendo sido (segundo uma das versões do seu martírio) salvo por um leão. Morreu muito jovem, no ano 275.

Foi sepultado perto de Cesareia, tendo sido o corpo trasladado para Jerusalém e depois para Constantinopla. Durante a Idade Média algumas relíquias foram trazidas para a Europa, podendo hoje ser visitadas na Catedral de São Mamede em Langres, França. Cognominado de “o grande mártir”, o culto em sua honra espalhou-se por toda a Cristandade.

Em Portugal, o culto de São Mamede é muito antigo, tendo possivelmente sido introduzido através dos peregrinos vindos do Oriente, ao longo dos séculos XI, XII e XIII.

Santo muito popular em terras portuguesas, padroeiro de numerosas igrejas e capelas, a sua invocação está ligada à fundação da nacionalidade, nomeadamente à Batalha de São Mamede.

Iconograficamente São Mamede é representado geralmente com bastão – alusivo à condição de pastor, e acompanhado de um leão.

A festa litúrgica celebra-se a 17 de Agosto.

 

REFERÊNCIAS:

  • SILVA, Augusto Vieira da, As Freguesias de Lisboa, Lisboa, 1943.
  • CASTILHO, Júlio de, Lisboa Antiga. Bairro Alto, Vol. V, Lisboa, 1966.
  • ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, Lisboa, 1940 - 1956

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