O Presépio da Basílica da Estrela, Lisboa
A palavra presépio, na etimologia latina – praesepe ou praesepiu -, significa lugar onde se recolhe o gado (curral, estábulo). Ao longo dos tempos, foi usada para designar a cena do Nascimento de Jesus, descrita no Evangelho de São Lucas (2, 6-21).
A sua representação mais comum tem origem franciscana: São Francisco de Assis, na noite de Natal de 1223, fez recriar a cena evangélica com um presépio vivo. A partir de então, o costume da representação plástica do Nascimento de Cristo, difundiu-se por outros conventos, não só franciscanos, seguindo-se igrejas e casas particulares.
Em Portugal, esta tradição veio também através dos franciscanos, possivelmente já no século XIV. O grande desenvolvimento deu-se sobretudo a partir do século XVI. No século XVIII, surgiram os presépios barrocos, possivelmente com influências italianas, notabilizando-se a sua produção pelas mãos de grandes artistas.
O monumental Presépio da Basílica da Estrela foi realizado entre 1781 e 1785, com o patrocínio régio. É obra do notável escultor Joaquim Machado de Castro (1731-1822), com intervenção de vários colaboradores. O emolduramento em talha é de António Ângelo (c. 1745-1814).
O grandioso conjunto foi concebido para um espaço específico - a Casa do Presépio -, localizado no segundo piso do convento. Transferido por diversas vezes, foi finalmente instalado, em 1951, na sacristia direita da igreja. O restauro de 2003-2004 permitiu reconstituir a estrutura compositiva original do conjunto.
O presépio tem mais de 450 figuras, modeladas na sua maior parte em terracota, pasta de papel e cola policromadas. O conjunto está encerrado numa maquineta monumental, com portas envidraçadas que permitem uma observação de grande amplitude.
A partir da cena central do Nascimento de Jesus, desenvolvem-se várias cenas evangélicas: Anunciação e Adoração dos Pastores, Adoração dos Reis Magos, Martírio dos Inocentes, Fuga para o Egipto. Foi dada especial relevância ao Cortejo Régio, uma alusão explícita à encomenda real.
O presépio inclui uma grande variedade de figuras do povo e cenas da vida quotidiana portuguesa. Imensa profusão de anjos, serafins e querubins dão ao conjunto um grande esplendor.
Referências
- SALDANHA, Sandra Costa, A Basílica da Estrela: Real Fábrica do Santíssimo Coração de Jesus, Lisboa, Livros Horizonte, 2007.
- PEREIRA, Paulo (Dir.), História da Arte Portuguesa, Lisboa, Círculo de Leitores, 1995.
- Instituto Português de Conservação e Restauro, Presépio da Basílica da Estrela, Lisboa, IPCR, 2004
Adicionar comentário
Comentários
A conservação e restauro do Presépio monumental da Basílica da Estrela, pelos Técnicos do Instituto Português do Património Cultural, actual Laboratório José de Figueiredo, permitiu a redescoberta, o estudo e divulgação deste magnificente projecto do Escultor Joaquim Machado de Castro.