Tabela dos Toques de Incêndio (Luanda, Angola)
No início do século XIX, Luanda era ainda uma cidade com escasso casario de pedra. A maior parte da população vivia em casas com telhados de colmo, em zonas muito vulneráveis, onde deflagravam com facilidade os incêndios. Por outro lado, a água dos poços não chegava para as necessidades básicas e, em situação de incêndio, o problema agudizava-se, sendo forçoso o uso eficiente da água disponível.
Em Luanda, foi introduzido um outro sistema de alarme em meados do século XIX. A cidade foi dividida em dez zonas, e cada igreja da zona possuía uma caixa de incêndio com a respectiva tabela dos toques de sinos inscrita, uniforme para toda a cidade.
Na igreja de Nossa Senhora dos Remédios ainda é visível, na base da torre sineira, à direita, a antiga caixa de incêndio, com a inscrição da Tabela dos Toques de Incêndio:
- 5 IGREJA DO CORPO SANTO
- 6 IGREJA DOS REMÉDIOS
- 7 MUTAMBA
- 8 MERCADO
- 9 FORTALEZA DE S. MIGUEL
- 10 OBSERVATÓRIO
- 11 IGREJA DA MISERICÓRDIA
- 12 HOSPITAL MILITAR
- 13 ABEGOARIA
- 14 IGREJA DO CARMO
- PARA PARAR 3 BADALADAS
O problema da deflagração e rápido combate aos incêndios foi uma situação recorrente nas cidades, desde sempre.
Em Portugal, data de 1395 a primeira iniciativa oficial de prevenção de incêndios: D. João I assinou a Carta Régia que estabelecia as medidas a tomar no âmbito da prevenção e do controlo de incêndios em edifícios na cidade de Lisboa.
O alarme de fogo estava habitualmente associado ao rebate dos sinos das igrejas, que alertavam a população para a emergência de acorrer ao local do sinistro.
Os sistemas de alarme e combate ao fogo evoluíram em duas vertentes. Por um lado, a prevenção, com sistemas de vigilância - particularmente nocturna - e a regulação do uso de foguetes e de pólvora; e, por outro lado, a melhoria dos sistemas de transporte, acesso e manuseio de instrumentos de acesso e de disponibilidade de água para combater os incêndios da cidade.
Em 1836, foi publicada em Lisboa a Tabela dos Toques de Incêndio, um sistema que tinha por objectivo a assinalação precisa do fogo e a melhoria na prontidão do socorro.
Foram colocadas no exterior da torre das igrejas de cada freguesia, Caixas de Incêndio com a respectiva tabela de toques.
Eram caixas de ferro fundido, tendo na tampa inscrita a lista dos Toques de Incêndio e, no interior, um manípulo que fazia a ligação ao sino da igreja. Os sinais deveriam ser dados sempre pela igreja que estivesse mais próxima do lugar do foco de incêndio. O número de badaladas localizava com maior precisão o local do sinistro. O sinal de três badalavas indicava que a situação estava controlada.
Este sistema de alarme difundiu-se pelas principais cidades de Portugal, dos domínios de além-mar ou de influência portuguesa, durante a segunda metade do século XIX. Localizadas em pontos estratégicos, funcionou de modo eficaz e a par do desenvolvimento das corporações de bombeiros. Deixaram de ser utilizados por volta dos anos 30 do século XX, quando se generalizou a instalação dos postos telefónicos nas zonas urbanas.
Em Luanda, além da igreja dos Remédios, encontra-se também uma destas peculiares e raras caixas de incêndio na igreja do Carmo e eventualmente noutras partes da cidade.
Referências
- AMARO, António Duarte, O socorro em Portugal Organização, formação e cultura de segurança nos corpos de bombeiros, no quadro da Protecção Civil, Dissertação de doutoramento, Porto, Universidade do Porto, 2009.
- PEREIRA, Fernando, Luanda a ferro e não a fogo, Novo Jornal. Luanda 27.03.2015 https://recordacoescasamarela.blogspot.com/2015/03/luanda-ferro-e-nao-fogo-novo-jornal.html (consultado em 18.05.2024).
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Comentários
Surpreendida e grata pelos dados fornecidos, que me eram totalmente desconhecidos. E que eficácia no modo de servir com o saber e a engenho talentoso dos portugueses.