O órgão da igreja de São Bento da Vitória, Porto
O órgão de São Bento da Vitória, de grande valor histórico, foi construído por Frei Manuel de São Bento entre 1716 e 1725, sendo a caixa de órgão obra de Gabriel Rodrigues (1719) e o douramento por Manuel Homem Soares (1759).
O famoso órgão ibérico encontra-se do lado direito da nave (lado da epístola), junto ao notável cadeiral do coro-alto, tendo fronteiro uma tribuna idêntica correspondente ao chamado órgão mudo. Ambos têm uma magnífica caixa barroca, em talha dourada.
Destaca-se a decoração, surpreendente pela exuberância na pintura dos tubos, com carantonhas pintadas, puttis segurando uma original roda colorida de guizos, anjos com trombetas, dois atlantes na base a sustentar o órgão, aves fantásticas no remate das torres. Nestas, estão o escudo da Congregação Beneditina Portuguesa, ao centro e, lateralmente, os escudos da Ordem de Avis e da Ordem de Cristo, ordens militares que seguiam a Regra de São Bento.
O órgão teve várias intervenções no âmbito sonoro e mecânico desde a sua construção: em 1750 pelo próprio construtor – Frei Manuel de São Bento; em 1758/1761, foi desmontado e aperfeiçoado com novos registos; em 1783-1786, foi restaurado por Frei Domingos de São José Varela (1762-1834). Em 1880, foi novamente restaurado por António José dos Santos, organeiro de Mangualde e, finalmente em 1999-2001, pela oficina de organaria Pedro Guimarães – Von Rohden.
A grandiosidade do órgão insere-se no contexto da centralidade da Liturgia e do Ofício Divino na vida comunitária beneditina.
A importância dada à prática musical no mosteiro, destinada a solenizar o ofício divino, manifestou-se na instituição de aulas de canto e de instrumento, na nomeação de mestres para o efeito e no enriquecimento das celebrações litúrgicas com capelas de canto e órgãos monumentais.
A recitação das antífonas e a entoação dos salmos, com acompanhamento solene do órgão, notabilizou de modo particular o coro-alto, lugar próprio da oração monástica.
Foram em grande número os monges do mosteiro de São Bento da Vitória dedicados à prática musical, como organeiros, organistas, cantores de cantochão ou canto polifónico, com uma verdadeira escola ou capela de canto.
REFERÊNCIAS
- O MOSTEIRO DE SÃO BENTO DA VITÓRIA 400 anos, Porto, Edições Afrontamento, 1997.
- DIAS, Geraldo José Amadeu Coelho, São Bento da Vitória: Quatrocentos Anos da fundação do Mosteiro, Porto, Associação Comercial do Porto, 1997.
- DIAS, Isolino, LEITE, Antero, O Órgão Histórico da Igreja do Mosteiro de São Bento da Vitória, Folha d’ ACER: Boletim Informativo da ACER – Associação Cultural e de Estudos Regionais, Porto, Ano 1, Nº 0, 2009, p. 1-3.
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