Uma Lâmpada Judaica do Sabbath, Meda
A igreja de São Bento da Meda possui um notável lampadário judaico, em cobre, do qual se desconhece a datação e proveniência.
Trata-se de uma lâmpada de Sabbath, com sete pavios, prato largo na base e um eixo para suspensão.
Este tipo de lâmpada sabática desenvolveu-se na Idade Média a partir da Alemanha, sendo utilizado particularmente, para além da véspera do Sabbath, em ocasiões especiais, como nas várias festividades do calendário judaico. Estava associada à rica comunidade judaica de Frankfurt, que encomendava o trabalho aos famosos artífices desta região. Estes lampadários foram comuns na Europa nas comunidades culturalmente relacionadas com a Alemanha.
Nas terras de Meda, em Portugal, desconhece-se a data de fixação de judeus. É provável a sua presença na feira de Marialva, povoação vizinha, nos finais do século XIII. O crescimento das comunidades judaicas deu-se nos finais do século XV, após a sua expulsão de Espanha, fixando-se, além de Meda, nas terras fronteiriças de Moncorvo, Vila Nova de Foz Coa, Cedovim, Numão, Marialva, Pinhel, Trancoso…
Após o édito de expulsão de D. Manuel I em 1496 e, principalmente, durante o domínio filipino, as comunidades judaicas extinguiram-se, mas muitos cristãos-novos mantiveram os seus costumes em segredo. Em Meda há notícia da existência de cripto-judeus até data recente.
Em Portugal, nos inícios do século XX, foi registado entre os cripto-judeus de Belmonte, o costume ainda vigente de acender a candeia do Senhor, na véspera do Sabbath: Na tarde de sexta-feira, antes do sol-posto, celebram as donas de casa a entrada da festa sabática, acendendo uma candeia especial, a que chamam «candeia do Senhor», com azeite puro e uma torcida de linho virgem, especialmente preparada para este fim (1).
A prática centenária de acender uma lâmpada na véspera do Sabbath é uma das tradições judaicas mais proeminentes e divulgadas.
O costume radica no providenciar luz para a refeição de Sábado, visto ser mencionado nos textos bíblicos a proibição de acender fogo nesse dia – Não acendereis fogo em nenhuma das vossas casas nesse dia, Ex, 35, 3. Os antigos sábios talmúdicos permitiram e saudaram a prática de acender uma lâmpada na véspera, possibilitando assim luz para a refeição festiva do Sabbath, que ocorre durante a noite. A prática está associada ao âmbito feminino: na sexta-feira à noite a mulher da casa faz uma oração e acende a vela sabática.
A lâmpada sabática pôde consistir apenas numa simples candeia em argila, com compartimento para o azeite e um bico que suporta o pavio ou, como no caso do exemplar da Meda, como um lampadário mais elaborado, em material nobre, desconhecendo-se ainda a sua origem.
- SCHWARZ, Samuel, Os cristãos-novos em Portugal no Século XX. Separata do IV Volume da “Arqueologia e História”, Lisboa, Associação dos Arqueólogos Portugueses, 1925, p. 30
REFERÊNCIAS
- RODRIGUES, Adriano Vasco, Terras da Meda - natureza, cultura e património, 2.ª ed., Meda, Câmara Municipal, 2002
- MIGUEL, Isaura Luísa Cabral, Religião e vida social no espaço urbano: comunidades judaicas na Beira Interior em finais da Idade Média, Mestrado em História Regional e Local, Universidade de Lisboa, 2007
- SABAR, Shalom. "“The Eternal Sabbath – Electric Sabbath Candles: The History of a Folk Tradition from a Modernist Perspective" in Possession and Dispossession: Performing Jewish Ethnography in Jerusalem, edited by Lea Mauas, Michelle MacQueen and Diego Rotman, Berlin, Boston: De Gruyter, 2022, pp. 162-193. https://doi.org/10.1515/9783110786279-012
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