O Passo de Santo André, Lisboa


Ao cimo da Calçada de Santo André, encontra-se o Sexto Passo da centenária Procissão do Senhor dos Passos da Graça, em Lisboa.

Foi construído em 1765, substituindo aquele que existia na Rua do Bem Formoso. Em 1912, a Real Irmandade de Santa Cruz e Passos da Graça, perdeu a sua posse na batalha judicial com a proprietária do edifício. Este teve, entretanto, outros proprietários, entre os quais a Câmara Municipal de Lisboa que, em 2014, decidiu a venda do edifício, salvaguardando o usufruto da respectiva capela para a Confraria.

Finalmente em 2019, a Real Irmandade recuperou a posse do histórico Passo de Santo André, após 107 anos da sua perda. Foi restaurado e solenemente reinaugurado em 8 de Março de 2020, com a presença, entre outras personalidades, do Cardeal Patriarca D. Manuel Clemente e do Provedor da Real Irmandade, Dr. Francisco de Mendia.

O Passo está situado num dos bairros mais antigos e populosos de Lisboa. Corresponde, no primitivo percurso, à última paragem da procissão no exterior da igreja. Era precedido pelo Passo do Terreirinho, no início da Calçada, junto ao Largo do mesmo nome, e que ainda também subsiste.

A arquitectura exterior é semelhante aos restantes passos, quase todos desaparecidos. A capela está inserida na muralha fernandina e na casa onde, em 1647, nasceu São João de Brito. Tem uma portada para o exterior com arco em pedraria de volta perfeita, frontão sobre a cornija e medalhão central coroado pela cruz. As portadas, que anteriormente só se abriam nas Sextas-feiras da Quaresma, cobrem toda a altura e largura da capela. Reproduz para o exterior a estação da Via Sacra Jesus consola as mulheres de Jerusalém.

 

A Procissão dos Passos da Graça

A centenária Procissão dos Passos da Graça é uma das maiores manifestações de piedade da cidade de Lisboa. Foi realizada pela primeira vez em 1587. O seu principal instituidor foi Luís Alvares de Andrade (c. 1550-1631), pintor régio que, pela sua grande devoção e com o empenho do arcebispo de Lisboa D. Miguel de Castro (1536 – 1625), pretendeu realizá-la em Lisboa, à semelhança de Sevilha. Para o efeito, foi escolhido o percurso entre São Roque e a Graça, que parecia ser o de maior semelhança com o percurso do Calvário em Jerusalém.

A procissão, realizada no início da Quaresma, tinha inicialmente caracter exclusivamente penitencial, sendo acompanhada pelos numerosos irmãos da Confraria, por um grande número de penitentes, grande parte da nobreza e uma enorme multidão de fiéis. A imagem do Senhor dos Passos sobre um andor é transportada solenemente aos ombros dos irmãos.

A procissão, a cargo da confraria - Real Irmandade de Santa Cruz e Passos da Graça -, percorria as ruas da capital na Quaresma, entre São Roque e a Graça, com paragem em sete estações – os Passos -, o primeiro em São Roque, seguido de outros cinco no percurso e terminando na igreja da Graça. Estavam abertos à veneração dos fiéis todas as sextas-feiras da Quaresma.

Cada um dos Passos possuía uma estrutura semelhante, com um pequeno altar e painel figurativo de uma estação da Via Sacra.

Actualmente apenas subsistem dois dos antigos Passos: o Quinto Passo (do Terreirinho) à entrada da Calçada de Santo André e o Sexto Passo (de Santo André), no final da mesma Calçada.

A procissão realiza-se anualmente há mais de 400 anos. Teve o percurso mais reduzido a partir de 1910, no período conturbado da implantação da República. Em 2013, a procissão retomou o percurso original por iniciativa do Cardeal-patriarca de Lisboa D. Manuel Clemente, com renovada participação de fiéis de toda a cidade de Lisboa.

A veneranda imagem do Senhor Jesus dos Passos da Graça é uma das mais célebres da cidade de Lisboa. Obra de um escultor italiano, foi adquirida por Luís Álvares de Andrade em 1577, e está igualmente na origem da Procissão. Em 1755 ficou sepultada nos escombros da igreja e piedosamente recolhida pelos irmãos. Tem associado um especial culto de veneração.

A Real Irmandade da Vera Cruz e Passos de Cristo foi instituída em 1586 também por Luís Álvares de Andrade, e confirmada pelo Arcebispo de Lisboa D. Miguel de Castro. É a mais antiga Irmandade desta invocação existente em Portugal. Celebrizou-se por lhe pertencer a primeira nobreza de Portugal, motivo pelo qual passou a ser chamada de Real Irmandade. A sede da irmandade, capela do Senhor dos Passos, instalada inicialmente numa das alas do claustro nobre, está situada no transepto da igreja desde 1668.

 

REFERÊNCIAS

  • Esboceto Histórico da Veneranda Imagem do Senhor Jesus dos Passos da Graça e templo da mesma invocação, Lisboa, Tip. Lisbonense, 1874.
  • RIBEIRO, Mário de Sampayo, “A Igreja e o Convento de Nossa Senhora da Graça de Lisboa”, Separata de Olisipo, Lisboa, nº. 5, 6 e 7, 1939.
  • ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, Lisboa, Parceria A. M. Pereira, Vol. 2, Livro 8, Lisboa, s.d.

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