
Memórias de D. Afonso Norandim de Ormuz, Lisboa
Rais Norandim (ou Nurodin) Eroxá, jovem de origem persa, era filho do aguazil-mor de Ormuz, Rais Nurodim,
Por conselho do Capitão de Ormuz – Matias de Albuquerque (1547-1609) -, recebeu lições em sua casa, de modo a preparar-se para a função de Juiz de Alfândega do mesmo porto por ser muito preciso o uso da língoa e letra portuguesa, para o ofício de aguazil e juiz de alfãndega (1).
Cerca de 1587, converteu-se ao cristianismo sendo baptizado com o nome de Afonso: Dom Affonço Nordim, filho do aguazil de Ormuz, e Dona Phelipa Morada sua irmã forão convertidos a fé de Christo pelos religiosos eremitas (2)
Bibi Fatima, dama da alta nobreza persa em Ormuz, irmã de D. Afonso, converteu-se ao cristianismo também em 1587, sendo baptizada e mudando o seu nome para Filipa Morada. O seu baptismo, realizado na maior igreja de Ormuz, teve festividades imponentes. Foi levada para Goa, juntamente com seu irmão mais novo - Afonso -, destinada a casar-se com o nobre português D. António de Azevedo. Veio para o reino com o irmão, de onde pouco depois regressou a Goa, onde faleceu a 22 de Fevereiro de 1589. Foi enterrada na igreja de Nossa Senhora da Serra em Goa. Os seus restos mortais foram trasladados posteriormente para a capela de Santo Agostinho, instituída por seu irmão no convento da Graça em Lisboa.
D. Afonso Norandim em Portugal
D. Afonso Norandim veio para o Reino em 1587, juntamente com sua irmã D. Filipa Morada, acompanhados por D. Matias de Albuquerque, no final do seu mandato como capitão de Ormuz.
A viagem fez-se, como era habitual, primeiro de Ormuz para Goa e depois para o Reino. Viajou na nau Nossa Senhora da Conceição, capitaneada por D. Jerónimo de Mascarenhas.
Instalou-se no Convento de Nossa Senhora da Graça em Lisboa, para melhor ser instruído em tudo o que cumpria a matérias da Religião e bom ensino (1).
Em 1 de Março de 1590, fez testamento, doando grande parte da sua fortuna aos Agostinhos da Graça. A 13 de Abril desse ano, voltou a embarcar para a Índia, novamente na companhia de Matias de Albuquerque, novo vice-rei. Durante a viagem, a 7 de Junho, a nau que o transportava foi assolada de tempestades na passagem da linha, havendo mortes em número avultado, entre eles a de D. Afonso Norandim.
A capela de Santo Agostinho na Graça
Os religiosos agostinhos, sabendo da morte do jovem persa, enviaram cópia do testamento para Ormuz, para que fosse devidamente autenticado.
As verbas disponibilizadas pelo testamento permitiram, entre outros, a construção de uma capela dedicada a Santo Agostinho, no ante-coro do Convento da Graça, instituída por D. Afonso. Segundo o seu desejo, nessa capela, foram colocadas em 1602, as urnas de D. Afonso e sua irmã Filipa Morada, com inscrições, respectivamente cenotáfio de D. Affonso Nordim e Cenotáfio de D. Philipa Morada.
A inscrição no frontispício da capela confirmava o legado:
D. Affonso Nordim filho de Guazil Mor do Reino d’Ormuz, cunhado do próprio de quem sua mãe foi mulher depois de viúva, neto d’hum Rey da persia, foi convertido à Fe de Christo N. senhor pelos religiosos desta Ordem, e huma de suas Irmãs D. Philippa Morada, e bautizados. À ele trouxeram à este reino, e doutrinarão neste Convento alguns anos. Tornando-se para a Índia falleceo na viagem. Deixou à esta Casa toda a sua fazenda para que della se fizesse esta capela, e se cumprissem seus legados, e o remanescente se gastasse nas obras deste Convento. – Anno 1602 (3)
A capela foi destruída pelo terramoto de 1755, subsistindo algumas estruturas ainda visíveis.
Sobre o portal da antiga capela, encontra-se uma cartela enrolada, correspondendo provavelmente às Armas de D. Afonso de Norandim: leão segurando uma cruz sobre glória. Também no interior, encontram-se duas pequenas urnas, possivelmente as mesmas correspondentes aos anteriores cenotáfios dos dois irmãos.
- Serrão, Vitor, O Túmulo de D. Jerónimo Mascarenhas no Bom Jesus de Goa e a tónica do sincretismo artístico na Índia Portuguesa ao tempo dos Filipes, Lisboa, Instituto de História da Arte Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2011, p. 80.
- REGO, António Silva, Documentação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente, Lisboa, Ed. Agência Geral das Colónias, 1947-1958, Vol. XII, p. 62.
- AZEVEDO, Carlos Moreira, Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho em Portugal (1256-1834,) edição da Colecção de Memórias de Fr. Domingos Vieira, OESA, Lisboa, Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR) da Universidade Católica Portuguesa, 2011, p.249.
REFERÊNCIAS
- SERRÃO, Vitor, O Túmulo de D. Jerónimo Mascarenhas no Bom Jesus de Goa e a tónica do sincretismo artístico na Índia Portuguesa ao tempo dos Filipes, Lisboa, Instituto de História da Arte, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2012.
- AZEVEDO, Carlos Moreira, Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho em Portugal (1256-1834), edição crítica da Colecção de Memórias de Fr. Domingos Vieira, OESA, Lisboa, Universidade Católica Portuguesa, Centro de Estudos de História Religiosa, 2011.
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