O Presépio perdido da Cartuxa de Laveiras, Oeiras
O presépio da Cartuxa de Laveiras foi considerado uma obra magnífica, descrito por Joaquim Machado de Castro (1731-1822) como huma peça de grande valor, e estima; assim pela composição e verdade dos objectos, como pela graça, e toque incomparavel, com que são executados (1).
Foi realizado pelo notável presepista António Ferreira na primeira metade do século XVIII, para o Convento da Cartuxa de Laveiras. Estava colocado numa sala superior do claustrinho quando, em 1737, foi observado pela Família Real em visita ao mosteiro.
Em véspera do nosso santo padre do anno 1737 veyo a raynha nossa senhora acompanhada do príncipe Dom Jozeph, da princesa, e do senhor infante Dom Pedro a visita a nossa igreja (…); sobiram ao claustro, virão o presépio, e o claustro das capelinhas, e se forão embora. (2)
Machado de Castro, que teve acesso ao presépio possivelmente por se encontrar num espaço de clausura masculino, referiu-se a António Ferreira como seu autor: O nosso Escultor Antonio Ferrª teve uma propensão decidida, e hum merecimento distincto no genero Pastoril. O Presepio executado por este Artista, que se acha no Convento da Cartuxa (…) (1).
Com o decreto de extinção de todos os conventos em 1834, foi desmontado e disperso. Há notícia, em 1837, de que o celebre presépio (de Ferreira) do Convento de Laveiras (2) estaria a ser procurado entre as obras mais importantes de artistas portugueses que não se encontravam já no Depósito de São Francisco da Cidade.
Também Alexandre Herculano (1810-1877) se lhe referiu como Rico presepe da cartuxa de laveiras, que tantos primores de esculptura encerrava, e que foi despedaçado depois da supressão do Mosteiro (2).
E numa petição apresentada à Câmara em 27 de Março de 1854, pela então proprietária do edifício da Cartuxa – D. Joana Maria da Conceição dos Reis - era referido que, entre um conjunto de peças, tinha sido retirado o magnífico presépio (3).
Em 1913, teria entrado na colecção do Museu Nacional de Arte Antiga, possivelmente integrado na incorporação dos bens do Convento do Sacramento, anterior depósito de grande número de presépios retirados dos conventos extintos.
No Museu Nacional de Arte Antiga, existe um conjunto de figuras provavelmente parte do presépio da Cartuxa de Laveiras, segundo Alexandre Pais.
O conjunto inclui imagens e grupos escultóricos, entre os quais as figuras de Nossa Senhora, São José, o Menino Jesus; os grupos escultóricos da Anunciação aos Pastores, os Reis Magos, a Adoração do Menino Jesus, e figuras populares como Os Doadores, o Gaiteiro, o Tocador de Sanfona…
António Ferreira era filho de um outro barrista – Dionísio Ferreira -, conhecido como O Ferreirinha de Chelas, por habitar nesta parte de Lisboa. Foi um dos mais importantes presepistas portugueses. Foi também responsável pelo conhecido e admirável presépio do Convento da Madre de Deus, entre outros. O presépio de Laveiras parece ter sido, no entanto, a sua melhor obra, de autoria comprovada.
O presépio, tendo sido disperso, não foi ainda completamente identificado. Relativamente às peças que se encontram no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa, embora de identificação quase comprovada, ainda permanece alguma incerteza sobre a sua pertença a este conjunto.
- CASTRO, Joaquim Machado de, Dicionário de escultura: inéditos de história de arte, Lisboa, Liv. Coelho, Lisboa, 1937, p. 58.
- Município de Oeiras, Santa Maria Vallis Misericordiae, A Cartuxa em Oeiras, ed Município de Oeiras, 2023, pp. 72, 211, 215.
- https://debates.parlamento.pt/catalogo/mc/cd/01/01/01/068/1854-03-27/373?q=Laveiras&from=1854&to=1854&pPeriodo=mc&pPublicacao=cd (consultado em 11.03.2025).
REFERÊNCIAS
- MACEDO, Diogo de, A Escultura Portuguesa nos Séculos XVII e XVIII, Revista Ocidente, Lisboa, 1948.
- PAIS, Alexandre Nobre, O Presépio em Portugal, Casal de Cambra, Caleidoscópio, 2007.
- OEIRAS. Câmara Municipal, CARRILHO, Pedro, et al. Santa Maria Vallis Misericordiae, A Cartuxa em Oeiras, Oeiras, Câmara Municipal, 2023.
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