O Relicário de São Vicente


Este culto teve sempre uma forte vertente de religiosidade popular, patente nos preciosos relicários, renovados e enriquecidos pela piedade cristã.

Ao promontório sacro chegaram no séc. VIII, as relíquias de São Vicente, diácono martirizado em Valência, trazidas por cristãos em fuga desta cidade durante a invasão muçulmana. As venerandas relíquias foram depositadas na chamada igreja dos Corvos no extremo Sudoeste algarvio. O persistente culto do mártir nesta área geográfica manteve-se durante séculos entre os cristãos moçárabes das cidades e lugares do Sul da Península Ibérica.

Em 1173, as relíquias foram trasladadas para Lisboa, no reinado de D. Afonso Henriques, tendo, no entanto, continuado as peregrinações à pequena ermida de São Vicente no barlavento algarvio, particularmente após a reconquista cristã.

A presença de relíquias de São Vicente nestes lugares é referida, pelo menos, no relato da passagem da armada do rei D. João I na dobragem do Cabo em direcção a Ceuta (1415).

D. João de Melo Bispo do Algarve (1468-1481) mandou fazer uma redoma de cristal para nela colocar huma reliquia do Santo, que parece ser hum osso de huma das mãos - segundo relato de Frei Manuel de Monforte, e que existia aquando da chegada dos frades franciscanos ao convento em 1516 (c.).

O Bispo D. Fernando Coutinho (1465-1538), muito contribuiu também para a manutenção e desenvolvimento do culto vicentino no Algarve.

A igreja do Cabo de São Vicente esteve sujeita a ataques de corsários – como o de Francis Drake em 1587 -, conseguindo sempre os religiosos salvar a relíquia. O convento foi reedificado, mantendo-se a devoção nestas terras meridionais, sendo numerosas as peregrinações à igreja Conventual do Cabo no dia que lhe é consagrado - 22 de Janeiro.

São Vicente foi proclamado padroeiro principal da Diocese do Algarve pelo Bispo D. Francisco Gomes de Avelar em 1794.

Em 1834, no documento elaborado à data da extinção do convento franciscano, figurava Huma Reliquia como sendo de Sam Vicente, que, em conjunto com outros objectos sagrados, se encontram actualmente na igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição de Vila do Bispo.


Referência

  • MATOS, António Perestrelo de, MACHADO, José Sousa, Moçárabe em Peregrinação a S. Vicente, Caminus, Beja, 1990.
  • DIAS, Isabel Rosa, Culto e memória Textual de S. Vicente em Portugal, Universidade do Algarve, 2003
  • PICOITO, Pedro, A Trasladação de S. Vicente. Consenso e Conflito na Lisboa do século XII, ISEC/IEM, 2008.

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