Uma Receita Conventual | Os Pastelinhos de ovos de Marvila (Lisboa)


A receita aparece publicada no primeiro livro impresso de doçaria portuguesa Arte Nova, e Curiosa, para Conserveiros, Confeiteiros e Copeiros, de autor anónimo, impresso em 1788. Este livro corresponde ao terceiro livro de cozinha publicado em Portugal – os anteriores referiam-se a cozinha internacional - e inclui diversas receitas conventuais, lisboetas na sua maioria.

Em 1834, após a extinção das ordens religiosas, as religiosas permaneceram no Convento – deduzindo-se, portanto, o continuar da confecção da respectiva receita.

Os pastelinhos de Marvila são referidos no The Lisbon Guide - Guia de Lisboa para visitantes de língua inglesa, com data de 1853 – como sendo famosos desde tempos imemoriais…

A 11 de Abril de 1872 foi suprimido o Convento com a saída das últimas freiras, interrompendo-se assim a notícia da feitura dos Pastelinhos.

Em 2009, foi recuperada a confecção tradicional dos Pasteis de Marvila, por iniciativa do então Pároco Pe. Luís Leal.

A receita (1) inclui os ingredientes presentes em todos os preparados da época, como sejam o açúcar, a farinha e os ovos. Entre os outros ingredientes aparece uma gordura - a manteiga lavada - e um ingrediente habitual para aromatizar preparados - a água de flor – elemento que acabará por cair em desuso.


Notas

(1) Toma-se uma quarta de farinha, um arrátel de manteiga boa, uma onça de água de flor, dez reis de canela em pó, duas onças de açúcar. Toma-se esta massa até ficar testa e desta massa se faça caixinhas em forma, quanto mais pequenas melhor, e postas em uma bacia vão ao forno, de modo que venham cozidas. E a bacia seja primeiro untada de boa manteiga lavada. Depois estará feita de espécie de ovos mais endurecidos que grossos com algum pão-de-ló torrado e ralado e assim feito se enchem as caixinhas. Depois de frios tudo se vão passando por açúcar em ponto de espadana e banhados nele se tiram com uma escumadeira e se vão pondo no prato onde se pulverizarão com açúcar em pó, com canela e desta sorte se compõe o prato.

 

Referência

Arte Nova e Curiosa para Conserveiros, Confeiteiros e Copeiros, Estudo e actualização do texto por Isabel M. R. Mendes Drumond Braga, Colares Editora, 2004


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