Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Vila do Bispo, Algarve


Nesta página: 

I . História

II . Descrição

III . Nossa Senhora da Conceição: culto e iconografia

 

I . HISTÓRIA

A actual igreja matriz de Vila do Bispo foi edificada em finais do século XV, numa região fortemente marcada pela vizinhança do promontório sacro.

A igreja da anterior Aldeia do Bispo foi dedicada a Santa Maria. A origem da povoação remonta, pelo menos, ao ano de 1374, tendo sido doada, em 1515, ao Bispo de Silves D. Fernando Coutinho (1465-1538).

Em 1662, a Aldeia do Bispo foi cedida a Martim Afonso de Melo (c.1600-1671), 2º Conde de São Lourenço por D. Afonso VI, e elevada a vila, realizando-se neste período a remodelação do interior da igreja, que se prolongou por várias décadas.

Em princípios do século XVIII, no reinado de D. João V, foi enriquecida em todo o interior, incluindo os retábulos de talha dourada, o revestimento de azulejos da nave e a pintura dos tectos.

O terramoto de 1755 afectou particularmente a fachada principal que foi remodelada alguns anos depois. As memórias paroquiais de 1758 fazem referência à Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo, que possivelmente estará na origem da capela lateral da mesma invocação.

Na década de 1960, houve várias intervenções de restauro do edifício, sendo deste período o início da colecção de Arte Sacra, sendo pároco o Pe. Manuel Clemente.



II . DESCRIÇÃO

A igreja, integrada no casario de Vila do Bispo, tem a frontaria orientada a Oeste, com amplos espaços circundantes. A fachada principal tem portal emoldurado com volutas na base, no frontão o símbolo M – Maria -, e um remate já realizado após o terramoto. Do lado direito encontra-se a torre sineira com friso decorativo.

O interior da igreja é de notável beleza, harmonizando de forma peculiar a talha dourada dos altares, o revestimento azulejar das paredes e a pintura decorativa do tecto. É particularmente significativa toda a decoração, nesta igreja dedicada a Nossa Senhora da Conceição.

A nave encontra-se totalmente revestida de composições azulejares em tons de azul (1715), de tipo tapete e painéis de albarradas - provavelmente de oficina lisboeta – que realçam a luminosidade do interior.

O esplêndido tecto de madeira, em caixotões, está pintado com motivos florais envolvendo símbolos marianos - fonte, estrela, lua, espelho…- e eucarísticos – pelicano, cálice, escada…. Ao centro encontra-se uma cartela com inscrição, parcialmente legível, encimada por coroa real, referente ao restauro patrocinado pelo rei D. João V entre 1715 e 1726. Está rodeada por alfaias litúrgicas – naveta, incensário, campainha, galhetas.

No baptistério, à entrada da nave no lado esquerdo destaca-se a pia baptismal em pedra mármore.

As capelas laterais, estão inseridas em arco de volta perfeita.

A capela do Senhor dos Passos tem imagens do Senhor Crucificado, Nossa Senhora das Dores e São João Evangelista.

A riquíssima capela de Nossa Senhora do Monte do Carmo, totalmente revestida de talha dourada, tem sobre o arco o brasão da Ordem do Carmo; o retábulo também em talha dourada, actualmente com sacrário encimado por pelicano, tem as imagens de São Pedro e São Paulo sobre mísulas laterais.

Do lado direito da nave, encontra-se a capela de São José, com notável enquadramento em talha dourada, incluindo todo o interior; tem ao centro uma escultura de São José.

No altar de São Vicente encontra-se a imagem do santo padroeiro numa maquineta de talha dourada, bem como o precioso Relicário de São Vicente e a célebre Naveta que, segundo a tradição, foi utilizada na recepção dada pelo Infante D. Henrique ao sobrinho - rei D. Afonso V -, em 1458.

De destacar ainda na nave o púlpito pintado, os antigos confessionários em madeira e dois grandiosos lustres.

O arco triunfal, possivelmente ainda medieval e revestido de talha no início do século XVIII, destaca-se pela especial riqueza e exuberância.

Na capela-mor, preside Nossa Senhora da Conceição, preciosa escultura, proveniente do antigo convento de São Vicente do Cabo. No esplêndido retábulo, a tribuna, além do trono encimado por coroa sustentada por anjos, tem o interior com pintura de brutescos e coroa de rosas no centro.

Nas paredes laterais encontram-se duas notáveis pinturas quinhentistas representando São Pedro e São Paulo, provavelmente do antigo retábulo, atribuídas ao pintor algarvio Álvaro Dias (c. 1571). Destaca-se ainda uma bela escultura de Santo António, na parede lateral Sul.

O tecto tem decoração floral rodeando uma cartela central com a imagem da Padroeira.

Na sacristia encontra-se um notável arcaz, provavelmente do século XVII, com a imagem do Senhor Crucificado ao centro, tendo na base os símbolos da Paixão - dados, caveira.... Dois anjos, em atitude compungida, estão suspensos nas abas do espaldar.

A igreja possui notáveis peças, entre as quais a Naveta que, segundo a tradição, foi utilizada na recepção dada pelo Infante D. Henrique ao seu sobrinho o rei D. Afonso V em 1598; e particularmente uma preciosa Custódia de muito merecimento.



III . NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO: CULTO E ICONOGRAFIA

O culto da Imaculada Conceição de Nossa Senhora é muito antigo, remontando ao século VIII na Igreja Oriental. Em Portugal, terra de Santa Maria, a devoção está profundamente arreigada, sendo incontáveis as igrejas, capelas e lugares dedicados a esta invocação mariana. A festa de 8 de Dezembro já era celebrada no reinado de D. Afonso Henriques (1109-1185). Nossa Senhora da Conceição foi proclamada Padroeira de Portugal por D. João IV em 1646, na sequência da restauração da independência nacional.

Em todo o Algarve são inúmeros os lugares dedicados a Nossa Senhora da Conceição, já desde épocas recuadas. No Sudoeste Algarvio surge esta invocação pelo menos desde o século XVI.

A iconografia evoluiu ao longo dos tempos e está particularmente inspirada na passagem do Apocalipse 12, 1-3: E viu-se um grande sinal no céu: uma Mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça. Numa das mais antigas representações, a Virgem Imaculada tem o Menino nos braços, o crescente lunar aos pés, pisando uma serpente, e encimada por uma coroa sustentada por dois anjos – como na igreja de Nossa Senhora da Conceição em Vila do Bispo.

A festa litúrgica é celebrada a 8 de Dezembro.

 

REFERÊNCIAS

  • Boletim da Junta de Província do Algarve – Centenários 1140-1640-1940, Faro, Junta de Província, 1940.
  • DGEMN, Igreja Matriz de Vila do Bispo, Boletim da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, nº 107, Lisboa, 1962.
  • LAMEIRA, Francisco, A talha no Algarve durante o Antigo regime, Universidade do Algarve, 1999.
  • JESUS, Artur Vieira de, Vila do Bispo lugar de encontros, Câmara Municipal de Vila do Bispo, 2015.

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